Mas se abrirmos os olhos, se entendermos direito as coisas, se deixarmos para lá os nossos vícios, ah, que felicidade! Não vamos conseguir nos conter de tanta alegria!
Nós complicamos demais a vida. Deixamos nosso espírito depender demais de coisas externas a Deus e a nós. Colocamos nossa felicidade naquele empregão que queremos, nos carrão novinho, no namorado ou na namorada, no vestibular e até naquele par de sapatos na vitrine. Enquanto isso, o que realmente importa está sendo deixado de lado. E o que é que realmente importa? Ora, é Deus! É nele que está toda a alegria, toda a felicidade, todo o contentamento, todo o prazer! O resto é bobagem.
São Francisco de Assis abandonou tudo. Saiu de casa literalmente “com uma mão na frente e outra atrás”, e foi um dos homens mais felizes e alegres que já existiu. Ria à toa, encantava-se o tempo todo com a beleza da natureza. Vivia cantando e fazendo poesias. E alguém ousaria dizer que ele estava errado? Que ele era um tolo? Ora, foi um homem profundamente simples e profundamente sábio. Por que não o imitamos?
Não precisamos de nada para ser alegres, pois já temos tudo: temos Deus. Basta que nos lembremos de que estamos vivos, de que Deus criou para nós esse mundo com cores exuberantes, com sons reconfortantes, com perfumes suaves, com sabores deliciosos. Que alegria maior pode haver do que a alegria de estar vivo, de saber que somos filhos de Deus? Não podemos deixar que coisas desagradáveis, mas passageiras, escureçam a luz da alegria. Não podemos ser moles, fracos, deixando qualquer dificuldade nos abater. Precisamos aprender a ter ânimo e força, fé e esperança. Mesmo quando os problemas são realmente difíceis, as dores realmente penosas, precisamos nos lembrar da bravura de Jesus na cruz, do amor de Deus por nós, do prazer infinito que nos aguarda após a morte.
Vamos aprender a sorrir mais, vamos parar de reclamar, de criticar. Vamos aproveitar mais os muitos bons momentos que vivemos. Que delícia o cheirinho de café quente de manhã, o toque suave da água numa garganta sedenta, as primeiras palavras de um bebê, o barulho da água de um riacho claro num céu limpo, a brisa refrescante numa noite estrelada, o latido amigo de um filhotinho de cão, a sensação da areia fria num pé descalço, o jeito bobão dos enamorados, o carinho do pai e da mãe, a jabuticaba comida no pé, o passeio na casa dos avós, as piadas dos amigos, o trabalho bem feito, a noite bem dormida, o beijo afetuoso, a saudade, a esperança. Temos tantas coisas boas! Vamos valorizá-las, vamos nos alegrar por elas.
A criança e o jovem sabem ser mais alegres. Para a criança, tudo é novidade: cada nova descoberta traz um enorme excitamento, e, em sua inocência, tudo é bom. O jovem é confiante: ele se sente mais forte que o mal, e está pronto para o combate, o bom combate, o tempo todo. Ora, nós - crianças, jovens, adultos, velhos - precisamos ter um pouco dessa inocência e um pouco dessa confiança. Temperadas com a prudência dos mais velhos, seremos acapazes de atingir a felicidade.
Precisamos também aprender a levar certas coisas menos a sério e ter um pouco mais de bom humor. Mas é preciso diferenciar a alegria - que é um sentimento puro e solidário - da hilariedade - que é apenas gostar de rir - e da irreverência - que é o não ter limites para o riso. A verdadeira alegria é respeitosa, gosta de ver todos alegres. Fazer gozações com os outros não é mal, desde que não haja nisso nenhuma humilhação, nem desejo de fazer mal. Se alguém sai triste ou irritado de uma brincadeira, quem a fez pode nada ter de alegre - e ser apenas perverso. E brincar com as coisas santas, tirando delas o que têm de divino, é blasfêmia, pecado grave.
O jovem tem que ser alegre mesmo. Tem que viver cantando alto, tem que viver gastando energia, tem que viver correndo, se impressionando, se dedicando. Precisa viver alegre - e alegrando os outros. Pois quem inventou a alegria foi Deus e ela é uma bela arma contra o mal.
A alegria nos faz rir de nós mesmos: assim, nos ajuda a ser humildes. Ela nos faz rir das dificuldades: assim, nos ajuda ser fortes. Ela nos faz rir do mal: assim, nos ajuda a ser corajosos. Ela nos faz também solidários, amigos, caridosos.
Proocuremos nossa alegria em Deus. Sim, é possível querer e, por isso, ser alegre. É uma questão de despertar em nós esse sentimento. E ele é contagiante. Atrai coisas boas, atrai pessoas boas, ao mesmo tempo em que afasta o que há de ruim… E quem não gosta de conviver com pessoas alegres?
Viva a alegria!
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