quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

A infância de Jesus: breve, mas belo e profundo livreto de Bento XVI

Publicado no final de 2012, o livreto A infância de Jesus, do Papa Bento XVI, é uma boa dica de leitura neste momento em que o Natal está chegando. Nele, o agora Papa Emérito sintetizou, em linguagem bastante clara e em prosa muito concisa, vários estudos já feitos sobre a história do nascimento de Cristo, diversas informações históricas e vários conceitos teológicos, tudo isso sem perder a profundidade.

O livro não foge de nenhuma questão complexa, abordando o que já foi dito sobre vários pontos controversos e apontando uma solução. Por exemplo: houve mesmo um grande recenseamento em Israel? José e Maria tiveram mesmo que se deslocar para Belém? Mas por quê? A datação do nascimento de Jesus está mesmo errada? Houve um massacre dos inocentes?

Uma nota sobre a imprensa

Uma nota curiosa: quando o livro foi lançado em 2012, a imprensa brasileira fez alarde sobre um ponto específico: os personagens presentes na hora do nascimento. O jornal Estado de Minas publicou a matéria mais maluca: “Livro do Papa sobre Jesus altera a cena do presépio“. Logo na primeira linha: “Personagens garantidos nos presépios de Natal, as mulas e os bois podem ficar de fora este ano”. Na verdade, tudo o que Bento XVI diz no livro é que os animais não são mencionados nos evangelhos, mas que desde cedo firmou-se uma tradição de imaginá-los na cena do nascimento. O Papa explica os motivos práticos e teológicos disso, e conclui: “Nenhum presépio prescindirá do boi e do jumento”.

Como os jornalistas fizeram uma distorção tão grande sobre um detalhe tão pequeno? Esse episódio nos ajuda a refletir sobre como se faz jornalismo hoje, no Brasil e no mundo. A necessidade de vender, e de chamar a atenção a qualquer custo, faz com que jornalismo e entretenimento se misturem a ponto de quase se confundirem. Editores e redatores tendem a realçar aspectos bizarros, ou engraçados, ou controversos, ou inusitados das histórias a serem contadas apenas para tentar captar a atenção do leitor. Não importa se tais aspectos não são realmente importantes – e, muitas vezes, não importa sequer se são verdadeiros. Mas, deixa pra lá, voltarei a isso em outro momento.
"O que pode temer o filho nos braços do Pai?"

São Pio de Pietrelcina