quinta-feira, 26 de junho de 2008

Relembrando São Thomas More

style="font-size:85%;">Originalmente publicado no site da Comunidade Shalom:

Embora seja um personagem histórico relativamente conhecido, é muito pouco divulgado o aspecto mais importante da biografia de Thomas More (ou Morus, na versão latinizada de seu nome): ele foi canonizado pela Igreja Católica. Sua festa foi comemorada no último domingo, dia 22 de junho.

Geralmente ouvimos falar dele por dois motivos: é o autor do famoso livro Utopia e também foi um dos mais proeminentes políticos da Inglaterra no tempo de Henrique VIII, aquele. E foi executado justamente a mando do próprio quando se recusou primeiro, a apoiar o divórcio do rei e segundo, a jurar lealdade à igreja cismática que o soberano inglês estava criando. Executado por traição, ele é reverenciado como mártir, homem que não traiu sua fé, entregando a própria vida em nome da Igreja de Cristo. É considerado o protetor dos homens de governo.
O filme "O homem que não vendeu sua alma" (A man for all seasons), vencedor do Oscar em 1967, conta sua história.

Thomas More, "Nada se compara à glória que virá"

Gustavo Serpa , Consagrado na Comunidade de Aliança Shalom

Nascido em Londres aos 7 de fevereiro de 1477, Thomas More foi o único filho sobrevivente do casal John e Agnes More.
Ainda criança, foi enviado para a escola de Santo Antônio, em Threadneedle, sendo hospedado pelo Cardeal Morton, Arcebispo de Canterbury. Seu brilhante caráter e inteligência atraíam a atenção do Arcebispo, que o enviou para Oxford (1492). Em Oxford fez muitos amigos, entre os quais Colet, que mais tarde se tornaria seu confessor. Com pouco tempo de estudo, tornou-se, embora ainda não graduado, instrutor de Grego. Além dos clássicos, estudou Francês, História e Matemática, também aprendeu a tocar flauta e violino.

De volta a Londres, ingressou como estudante de Advocacia (1494) em duas Universidades. Finalizando esses cursos conseguiu destaque pela eloqüência, já que também era palestrante, e conseguiu o cargo de Juiz. Sua fama de sábio atraiu a atenção dos governos da região. Além de entreter-se com as leis, More lia sempre os escritos dos Santos Padres.

Começava um período da vida de More em que ele se ocuparia quase completamente de assuntos ligados à religião e questionamentos acerca da vocação pessoal. Ele pretendia o sacerdócio. Mas, ao final desse período de discernimento, com aprovação de Colet (seu confessor), abandonou as esperanças de torna-se um padre ou religioso. Erasmus, um amigo íntimo de Thomas More, revelou um pouco desse momento: "Ele aplicava todas as áreas do seu ser em exercícios de piedade, observando e refletindo sobre o sacerdócio em vigílias, orações ... A única 'coisa' que o fazia pensar mais era o desejo também do matrimônio. Ele preferia ser um marido casto do que um sacerdote impuro."

Tendo resolvido a questão vocacional, More voltou-se novamente para a advocacia e alcançou imediato sucesso. Conheceu Jane, filha de um amigo, e com ela se casou. Pai de quatro filhos: Margaret, Elizabeth, Cecília e John, teve sempre um comportamento exemplar. Levantava-se às duas da madrugada para rezar e estudar até as sete, hora em que ia à missa. Nem mesmo uma intimação do rei podia interromper seus exercícios de piedade. Jane More, sua esposa, morre seis anos depois. More casou-se novamente com uma viúva, Alice Middleton. Mais velha que ele sete anos, ela cuidou muito bem dos filhos deixados por Jane.

Sua fama como advogado era muito grande, acumulava cada vez mais cargos jurídicos e reis poderosos queriam sua amizade. Chegou a ganhar um grande terreno em Chelsea, onde construiu uma mansão. Mas More não deixava que os favores reais o cegassem. "Se minha cabeça pode ganhar um castelo na França, eu também posso perdê-la por isso". As polêmicas Luteranas espalhavam-se por toda a Europa e More lutava contra elas, escrevia comentários sobre as controvérsias do protestantismo. Todos liam seus escritos. Primeiro escrevia em latim, mas quando os Reformadores Ingleses começaram a ser lidos por pessoas de todas as classes ele adotou o Inglês, o que contribuiu também para o desenvolvimento da língua inglesa em toda aquela região.

Em outubro de 1529, More sucedeu o Chanceler da Inglaterra, um posto nunca antes alcançado por um "homem das leis". Ocupava esse cargo quando o Rei Henrique VIII rompeu com o Vaticano e a Igreja Católica, em virtude de não ter logrado aprovação no processo de declaração de nulidade de seu casamento com Catarina para casar-se com Ana Bolena.

Revoltado, Henrique VIII fundou o anglicanismo, religião própria da Inglaterra na qual ele, o rei, seria seu dirigente máximo. A partir de então, obrigou todos os súditos a renegar a fé católica e a professar a religião que acabara de fundar. Thomas more gozava da confiança irrestrita do rei e de sua afeição pessoal. O rei insistiu de todos os modos - prometeu bens, cargos, favores, castigos, torturas, privações e morte - para que abjurasse a fé católica, mas nada conseguiu demover o santo da firmeza de professar a fé que abraçara desde o batismo.

O rei mandou chamar a esposa do chanceler para que ela mesma, alvo da extrema afeição de Thomas More, tentasse persuadi-lo a mudar de opinião. Ela lembrava que ainda tinham muito tempo de convivência pela frente, que ele não olhasse apenas para si... Mas ele, ternamente, olhou para ela e perguntou: Quantos anos mais você acha que viveremos juntos? Uns vinte anos, respondeu ela. Pois bem, disse ele, vamos imaginar que seja o dobro, 40 anos... ou mesmo o dobro disso, 80 anos, ou ainda mais... 100 anos. Como posso comparar e trocar 100 anos aqui na terra, sujeito à fome, ao frio ou calor, à doença, à velhice, e mesmo à morte, com toda a eternidade, em que não haverá mais doença, fome, morte ou dor? Não há como comparar. Se eu apostar, ganho, no máximo, 20 anos de sofrimento e perco a eternidade de gozo e glória junto a Deus.

Sozinho, na masmorra, More continuou suas práticas devocionais de oração e exercícios penitenciais. Escreveu "Diálogo de conforto contra a tribulação" e "Na Paixão de Cristo" (inacabado). Também relacionava-se por cartas com sua esposa e a filha Margareth. Em julho de 1535 recebeu a sentença: condenado à forca, alguns dias depois mudada para a decapitação. A execução teve como lugar Tower Hill, antes das nove horas da manhã no dia 6 de julho. Corajoso e tranqüilo sobre o patíbulo, ainda encontrou força para brincar com seu carrasco: "Ajude-me a subir; para descer, deixe por minha conta". Recitou o salmo 50 (Miserere), pôs uma venda nos olhos e inclinou a cabeça sobre o cepo.

Sua cabeça ficou exposta durante um mês na ponte de Londres. Sua filha Margareth subornou o guarda, que fingiu jogar a cabeça no rio e a deu para ela.
Thomas More foi beatificado pelo Papa Leão XIII, por um decreto de 29 de dezembro de 1886. Em 1935, foi canonizado pelo Papa Pio XI, que falou a seu respeito: "Exemplo de fidelidade aos cristãos da nossa época".

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