A Igreja de Nossa Senhora de Fátima, uma capela conhecida como Igrejinha, localizada na Asa Sul em Brasília, é palco de uma nova polêmica - nova porque polêmicas nunca faltaram a essa igreja. A controvérsia agora é centrada na pintura de uma Nossa Senhora sem rosto e sem mãos, toda modernosa.
A Igrejinha é uma capela ligada da paróquia de Nossa Senhora de Fátima. Foi construída, diz a lenda, para pagar uma promessa feita por Sarah Kubitscheck, esposa do homem. O projeto arquitetônico é de Oscar Niemeyer e a fachada é recoberta por azulejos de Athos Bulcão. Até algum tempo havia uma imagem de Nossa Senhora, no interior, sem rosto. Parece que a imagem foi destruída por atos de vandalismo. Recentemente um pequeno incêndio danificou a fachada. Agora a Igrejinha está sendo recuperada e foi encomendada uma nova pintura de Nossa Senhora...
A obra, do artista piauiense Francisco Galeno, está dando o que falar. A maioria dos católicos que frequentam a capela não gostou. Alguns afirmam que a pintura- com cores fortes e pipas no lugar das mãos - parece evocar o carnaval e o candomblé e querem que ela seja modificada. Galeno rejeita as críticas. Em entrevista disse: "procurei fazer uma coisa com sinceridade dentro da minha fé como cidadão e também como artista". (O que vem a ser fé como cidadão e como artista?)
O Instituto do Patrimônia Histórico e Artístico Nacional, Iphan, está na briga. Foi o órgão que contratou Galeno e defende a pintura. Recheado de petistas, eles gosta de usar frases como "A arte vai vencer o obscurantismo" (essa palavra - e as pessoas que a usam - me dão vontade de vomitar).
É uma polêmica muito complicada. É notório que o Iphan e o artista não compreendem a fé das pessoas que frequentam a Igrejinha. Para eles, é uma obra de arte moderna num prédio de arquitetura moderno - portanto, tudo a ver. Já os fiéis veem a pintura como uma ofensa a Nossa Senhora e, pior, uma ofensa entronizada na capela.
O Iphan faria melhor se colocasse essa pintura em qualquer outro lugar, menos na Igrejinha, e permitisse queali fosse colacada uma pintura mais clássica de Nossa Senhora. A pintura que Galeno e o governo querem impor aos fiéis é realmente inadequada para o local onde querem colocá-la. Pode ter tudo a ver com Brasília (e infelizmente isso diz muito sobre a cidade), mas não tem nada a ver com a fé. E, afinal de contas, é uma igreja e não um museu!
Mas o problema é bem mais complicado que isso. Em Brasília, pelo menos no Plano Piloto, não há sequer uma igreja remotamente tradicional. Todos os edifícios são de arquitetura moderna - alguns muito esquisitos. A catedral realmente é linda, o Santuário Dom Bosco é muito bonito por dentro e há algumas outras belas igrejas como a própria Igrejinha. Mas a onipresença da arquitetura moderna, com suas formas geométricas secas e sua ausência de ornamentos, tornou a paisagem de igrejas de Brasília extremamente monótona.
Parece que alguém decidiu que Brasília é uma cidade sem passado, e que deve olhar apenas para o futuro. A arte moderna é uma prisão em Brasília. Isso sim, para mim, é censura.
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