sexta-feira, 10 de abril de 2009

Por Amor



Ele é Deus. Assim, pode tudo. Basta uma centelha de vontade, um rápido pensamento, e o mundo inteiro pode mover-se, ou deixar de se mover. Foi assim que Ele transformou água cristalina em vinho. O que não era, passou a ser. Foi assim que cinco pães alimentaram cinco mil homens. O que não bastava, até sobrou. Foi assim que o cego começou a ver. Onde só havia escuridão, a luz penetrou. Foi assim que Ele andou sobre o mar; foi assim que Ele parou uma tempestade. Bastou que Ele quisesse. Ele desejou, e assim se fez. Ele é Deus, pode tudo.

"Se és mesmo o filho de Deus, desce dessa cruz", zombava e desafiava o povo. Ele não podia dar ordens aos ventos, fazer paralíticos andarem, fazer viver o que já estava morto? Então por que estava ali, pregado naquela cruz, com o corpo dilacerado? Ouvindo passivo o rugido da multidão? Que descesse!

Esse é um doloroso mistério da Paixão. O Filho de Deus se fez homem. Ele andou sobre o nosso mundo, do jeito que nós andamos. Pisou o mesmo chão. Tropeçou nas mesmas pedras, lavou-se nas mesmas águas. Alimentou-se do mesmo pão. Sentiu frio, calor, sede, dor. Tudo como nós. Tudo, com exceção do pecado.

Deus se fez homem. Deus se fez carne. E se entregou ao sofrimento como nenhum homem jamais havia feito. Deus se colocou no nosso lugar. Ele se entregou em sacrifício por nós. Ele se fez o Cordeiro de Deus.

Antigamente, os judeus costumavam sacrificar a Deus aquilo que tinham de melhor. Levavam ao Templo o melhor boi, o melhor cordeiro, a melhor parte da colheita, o melhor fruto de seu trabalho para sacrificar a Deus. O objetivo era mostrar ao Pai que podiam se desapegar do melhor que tinham para louvá-Lo e Lhe rogar o perdão dos pecados. Esse é o significado do sacrifício.

Jesus Cristo é o Filho de Deus. Ele próprio se entrega em sacrifício, resgatando os pecados da humanidade inteira. Daí em diante nunca mais será preciso sacrificar bois e ovelhas. O maior de todos os sacrifícios, a maior de todas as oferendas já foi feita.

Agora, nós ainda queremos pecar?

Antes de pecar, então, lembremo-nos. Lembremo-nos de cada uma das 39 chicotadas que Jesus levou. Lembremo-nos que o chicote tinha nove tiras, com pedaços pontudos de ossos em cada uma das nove pontas. Façamos as contas: 39 x 9. Foram 351 golpes cortando a pele, penetrando na carne, arrancando sangue e dor. Pensemos também na coroa de espinhos, forçada sobre o crânio. Lembremo-nos das humilhações, das bofetadas, das pancadas, das cusparadas. Lembremo-nos do peso da trave da cruz, algo perto de 50 quilos, carregados ao longo de mais de meio quilômetro – isso depois das chicotadas, das pancadas e de estar mais de doze horas sem comer nem beber nada.

Não se convenceu ainda? Então pensemos em como deve ser a sensação de ser despido e colocado sobre a cruz, com os braços esticados. Lembremo-nos dos cravos (que mediam quase 20 centímetros) sendo pregados com uma marreta, em cada um dos pulsos e também nos pés. Pensemos em quantos golpes foram necessários para pregar cada cravo na carne e no osso. E depois, pensemos na cruz já erguida sobre o chão. Imaginemos ter todo o nosso peso sustentando em nossas mãos pregadas. Imaginemos não conseguir respirar direito, pois o nosso corpo não tem sustentação para puxar ar suficiente.

Pensemos na sede. A língua presa no céu da boca. O sangue escorrendo por todo o corpo. Imaginemos agora a dor de cada uma das 351 vergastadas, dos ferimentos da cabeça provocados pelos espinhos, dos buracos nos pulsos e nos pés e da cãibra que domina todos os músculos.

Essa pequena descrição não tem a intenção de nos torturar. Apenas quer nos dar uma pequena noção daquilo que Jesus, o Filho de Deus, sofreu, da dor que suportou para nos salvar. Para nos libertar da morte. Para permitir que nós tenhamos acesso ao Reino de Deus. Jesus Cristo se entregou ao sacrifício por nossa causa. Cada golpe que se corpo recebeu , no fim das contas, foi provocado por nós.

Mesmo assim, no auge da dor, ele pediu a Deus que nos perdoasse. Essa é a resposta à grande pergunta. Por quê? Por que o Filho de Deus, que poderia ter feito parar todo esse sofrimento se assim desejasse, aceitou tudo?

Por amor é a resposta. Por amor.

Deus nos ama. Jesus nos ama. Cada pecado nosso é uma ferida em seu corpo, uma chaga em seu coração. É por isso que não devemos pecar. Não por que tenhamos medo do inferno. Mas por amor. Quem ama não quer ver o ser amado sofrendo. Pode um pai ou uma mãe suportar a dor de um filho? Pode um filho agüentar o choro dos pais? Os irmãos não cuidam uns dos outros? Então porque continuamos pecando, se sabemos que são os nossos pecados a razão da crucificação de Jesus?

Procuremos parar de pecar e reconheçamos, sejamos gratos. Acima de tudo, por amor ao Pai, a Jesus.

Afinal, Ele nos amou primeiro.

Nenhum comentário:

"O que pode temer o filho nos braços do Pai?"

São Pio de Pietrelcina