Atenção, o texto abaixo é só uma piada. Mas uma piada que traduz muito bem o espírito do tempo, o espírito de "todos contra Roma". Parece que o original circula pela internet em inglês. A versão que publicamos aqui é do blog Oblatvs.
Uma nova tempestade midiática contra o Papa
Retornando da África, tão logo desembarcou em Roma em uma tarde ensolarada, o Papa teria exclamado aos jornalistas: “Que belo tempo, hoje!”
Esta frase imprudente despertou em todo o mundo grande comoção e perplexidade e está alimentando uma polêmica crescente. Recolhemos algumas reações mais significativas.
Do arcebispo de Salsburgo: “Reafirmamos a plena fidelidade da Igreja austríaca ao Pontífice e estamos unidos a ele. Mas é espontâneo perguntar-se se por acaso ele não queira fazer a Igreja regredir a uma seita animista de adoradores do sol. Depois desta frase, o número de pessoas que pedem o cancelamento dos registros fiscais que sustentam a Igreja católica aumentou consideravelmente”.
De Alain Juppé, ex-primeiro ministro francês e atual prefeito de Bordeaux: “No instante em que o papa pronunciava estas palavras, em Bordeaux chovia aos cântaros. Esta contra-verdade, próxima ao negacionismo, mostra que o papa vive em um estado de total autismo. Isto destrói, se ainda fosse necessário fazê-lo, o dogma da infalibilidade pontifícia”.
Do Rabino-chefe de Roma: “Como se pode ainda imaginar que faça um belo tempo depois da Shoah [O Holocausto]? Somente no dia em que decidir visitar-me na Sinagoga de Roma, talvez, poderemos verificar juntos como estará o tempo”.
Margherita Hack, astrônoma e astrofísica: “Afirmando sem meios termos e sem provas objetivas indiscutíveis ‘que belo tempo hoje’, o papa demonstra o desprezo bem conhecido da Igreja pela Ciência, que desde sempre combate o dogmatismo. O que há de mais subjetivo e relativo do que esta noção de ‘belo’? Sobre quais provas experimentais indiscutíveis se apoia? Os metereologistas e os especialistas na matéria não chegaram a um acordo sobre a questão no último Colóquio Internacional em Caracas. E agora Bento XVI, ‘ex cathedra’, pretende decidir por si mesmo com tamanha arrogância. Ver-se-ão fogueiras acesas para todos aqueles que não concordam inteiramente com a noção papal de belo e mau tempo?”
Da Associação das Vítimas do Aquecimento Global: “Como não ver nesta declaração provocativa um insulto a todas as vítimas passadas, presentes e futuras dos caprichos do clima, das inundações, dos tsunamis, da seca? esta aquiescência ao ‘tempo que faz’ mostra claramente a cumplicidade da Igreja com estes fenômenos destrutivos, nos quais pretende ver sinais ‘providenciais’ de um Deus vingador e punitivo. E, o que é pior, tal atitude não faz senão encorajar aqueles que causam o aquecimento do planeta, porque poderão agora fazer valer o aval do Vaticano.”
Do Conselho Mundialista: “O papa finge esquecer que enquanto esplende o sol em Roma, uma parte do planeta mergulha na obscuridade noturna. Eis um sinal intolerável de desprezo por vastíssimas partes do mundo e um claro sinal, embora não fosse mais necessário, do eurocentrismo neocolonial deste papa alemão”.
Do Comitê americano das Associações feministas: “Por que o papa quis dizer ‘que belo tempo’ usando termos que, na frase original em italiano, estão no masculino? Poderia ter utilizado belissimamente palavras femininas como ‘que bela tarde’, ou melhor ainda ‘que tempo atraente’, usando assim um adjetivo ‘inclusivo’, uma vez que não se flexiona diferentemente seja no masculino como no feminino. É evidente que este papa, que outrora condenou a fórmula do batismo e de bênçãos não machista (‘In the name of the Creator, the Redeemer and the Sanctifier’), mostra em cada ocasião a sua adesão aos princípios mais retrógados. É desanimador que em 2009 alguém ainda esteja a tal ponto atrasado”.
Da Liga dos Direitos do Homem: “Este tipo de declaração não pode senão ferir profundamente todas as pessoas que têm da realidade uma visão diferente da do papa. Pensamos, em particular, nas pessoas imobilizadas no hospital, ou aprisionadas, cujo horizonte se limita às quatro paredes; e também nas vítimas de doenças raras cujos sentidos não permitem que percebam o estado da situação atmosférica. Há aqui, é evidente, uma vontade de discriminação entre o ‘belo’, segundo o cânone helenizante que se deseja impor a todos (em detrimento das minorias, dos afroamericanos e de todo conceito de ‘inculturação’), e aqueles que, por escolha ou por impossibilidade percebem as coisas de maneira diferente. Nós proporemos, a título de exemplo, ações judiciais por discriminação contra este papa”.
De Alberto Melloni, da escola de Bolonha: “Bem se vê a profunda diferença entre este papa introvertido e fechado em si e no seu mundo ultrapassado, que se limita a uma observação climática sem lhe tirar as devidas consequências, e a paterna abertura ao mundo do Papa João XXIII que, depois de haver observado a lua no céu, convidava todos a levar a seus filhinhos a carícia do Papa. Quando enfim um João XXIV retomará a causa do Espírito conciliar, que os últimos papas tentaram sufocar?”
De Beppe Severgnini, jornalista: “O Papa é o Papa. Ponto. Mas não se pode não pensar com um pouco de nostalgia que João Paulo II teria dito as mesmas palavras, talvez em romanesco (‘ggiornata bbona!), e agitando o solidéu branco aos fiéis que o acompanhavam de casa”.
O L’Osservatore Romano publicou uma versão ligeiramente diferente das palavras precisas do Papa (ele teria dito, segundo o L’Osservatore: “alguém poderia dizer que faz um belo tempo”). Mas os registros de áudio e vídeo dos jornalistas desmentiram a versão edulcorada. Muitos atacaram a ingenuidade do Pe. Lombardi que, embora estivesse ao lado do Papa, não interveio para impedir a afirmação ou imediatamente explicar melhor seu sentido.
Membros influentes da Cúria tentaram atenuar a gravidade da frase do Papa, destacando o seu cansaço depois da viagem africana, tendo em consideração a avançadíssima idade do Pontífice, declarando ainda que a frase incriminada foi mal compreendida e desejava ter um significado teológico-metafísico e não climático, como grosseiramente foi interpretada.
Mas a polêmica não dá sinais de esgotamento.
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