quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Rezemos pelos nossos juízes

Ocorre hoje o segundo dia do ciclo de audiências públicas do STF destinadas a discutir o aborto de crianças com malformação cerebral, os anencéfalos. O primeiro dia foi terça-feira, quando católicos e espíritas defenderam o direito dessas crianças à vida, enquanto membros da Igreja Universal do Reino de Deus e da ONG Católicas pelo Direito de Decidir (que não tem qualquer vínculo com o catolicismo) defenderam o direito ao aborto.

Hoje serão ouvidos parlamentares e representantes da comunidade científica. No dia 4 de setembro, será a vez de algumas ONGs serem ouvidas.

Esse é um dos temas mais delicados sobre os quais o Supremo Tribunal Federal é chamado a decidir. É um dilema ético profundo: de um lado, o imenso sofrimento de uma família que não poderá realizar, pelo menos daqulea vez, o sonho de ver seu filho crescer como uma criança comum, e do outro, o direito daquela criança de chegar ao mundo, mesmo que não vá poder viver por muito tempo.

Para alguns é simples, vale a ética de Pilatos: lavem-se as mãos, cada um decida o que quiser. Fácil e despreocupado. Para outros é preciso uma posição clara, de princípios, que não pode ficar ao bel prazer de cada um. É com estes que estou: uma criança anencéfala é, antes de tudo, uma criança, e como tal, não pode ser abortada.

O fato de uma vida estar fadada à morte é razão para ceifá-la ainda mais rapidamente? Não estamos todos fadados? Eles dizem: uma criança anencéfala vai nascer e morrer logo em seguida. Para que continuar com a gravidez, então? Ora, porque a gravidez é um processo que deve ser levado ao fim em toda circunstância. Isso é uma questão de princípio: não tem condicional, não tem "e se". A vida de uma criança é vida e não pode ser eliminada. E a ausência de uma parte do cérebro (porque a anencefalia não significa ausência total) não desumaniza um ser humano, não faz uma pessoa se tornar um animal e muito menos, como muitos gostam de dizer, um vegetal. Para quem crê, háuma alma ali. Para quem não crê, há sim um ser humano e desrespeitar um ser humano em seu direito básico à vida equivale a desrespeitar à humanidade inteira.

Além disso, já está mais do que comprovado que uma criança anencéfala pode viver um bom tempo. No Brasil, Marcela Ferreira viveu quase dois anos. Há registros de crianças que chegaram aos quatro anos de idade. Pouco? Pergunte a um condenado à morte o que ele não faria por mais dois anos de vida. Ou por mais um dia... E a vida de Marcela não foi vida? Quem pode se arrogar o direito de dizer isso? Quem define o que é vida, o que é humano? Por qualquer critério científico, Marcela estava viva e era humana. Bom, talvez os nazistas negassem isso.

Reconheço o sofrimento que deve ser para uma mãe ter em sua barriga uma criança que, sabe ela, morrerá em poucos anos - ou em poucas horas. Mas há que se pensar que o sofrimento dessa mãe será menor, tenho certeza disso, se ela puder ter essa criança em seus braços. Pois ela a verá como um filho e não como um apêndice estirpado. Leia aqui o que Cacilda, a mãe de Marcela, escreveu quando sua filha tinha onze dias de vida.

Lembremos também que o que se opõe aqui e um sofrimento moral e um princípio de proteção à vida: eu não poderia fazer outra escolha que não optar pela vida.

As mães (e também os pais, sempre tão deixados de lado quando se discutem esses assunto) precisam de muito apoio. Apoio dos amigos e familiares, apoio psicológico. Apoio contra os maus conselheiros. Infelizmente o que vemos são médicos/açougueiros aconselhando (contra a lei e contra o juramento de Hipócrates) a realização de abortos diante da menor unha encravada. Não são incomuns casos em que, diante de alguma malformação, o médico descreve para a família uma criança completamente defeituosa, assustando-os até com relação à aparência
de seu futuro filho. Uma vez nascida o bebê, ele, se não é perfeito, é uma criança linda como todas as outras.

É preciso ter em conta que a liberação do aborto de anencéfalos é mais um passo (depois das pesquisas com células embrionárias) rumo à liberação do aborto puro e simples, sem razões nem condicionantes nem justificativas. Há quem diga que uma coisa não tem nada a vercom a outra. É óbvio que tem: a cada momento se restringe mais o direito à vida. Primeiro, aos embriões implantados no útero. Depois, aos fetos sem malformação cerebral. Aos poucos vamos caminhando rumo à eugenia, rumo a desconsideração da criança na barriga da mãe.

Por isso, rezemos por nossos juízes. Rezemos para que eles sejam sábios e tomem a decisão correta. Rezemos para que não dêem mais esse passo rumo à liberação do aborto. Que Deus proteja o Brasil.

Leia também: Eles não gostam de Marcela .

2 comentários:

Anônimo disse...

Olá Moisés
Realmente, o caso de Marcela já contrapõe à ciência, mas infelizmente as pessoas estão mais voltadas para o seu egoísmo, como diziam as Católicas pelo Direito de Decidir "É justo uma mulher sofrer uma gravidez inteira para ver seu filho morrer ao final dela?"
A minha resposta seria: "É justo mantermos um criminoso na prisão para sendo que depois ele vai morrer?"
Nossa isso me inspirou, vou postar sobre isso, abração!!!

Santiago Chiva, Granada disse...

Eu recomendo fortemente um emocionante vídeo: http://es.youtube.com/watch?v=pJtlrYmZe6Y
Foi feito para fomentar uma maior aceitação social das crianças na Alemanha. Foi realizado por diversos meios de comunicação privados, dentro de uma campanha que contou com o apoio de personalidades da vida pública, apresentadores de televisão e esportistas que não cobraram cachê pela sua participação. Também receberam o apoio de importantes grupos editoriais e financeiros. Desde a liberalização do aborto no país os dados oficiais falam de quatro milhões de abortos, e não é leviano dizer que a cifra real seja o dobro. Este clima tem provocado que as crianças sejam valorizadas como um efeito não desejado do prazer sexual. Curiosamente, depois da campanha, a natalidade tem crescido na Alemanha.
Santiago Chiva (Granada, Espanha)

"O que pode temer o filho nos braços do Pai?"

São Pio de Pietrelcina