segunda-feira, 28 de julho de 2008

História da Salvação II - Noé

A história de Noé está narrada no Gênesis, sendo que seu nome é mencionado pela primeira vez no versículo 29 do capítulo 5. Ele é apresentado como descendente de Set e, portanto, descendente de Adão.

Naquela época, a humanidade encontrava-se corrompida. Os povos praticavam atos de maldade entre si e, por causa disso, Deus se arrependeu de tê-los criado e decidiu exterminá-los através de uma grande inundação que cobriria a terra inteira. Noé, entretanto, era um homem justo e íntegro, que temia a Deus e possuía um bom caráter. Então, Deus decidiu poupá-lo e também à sua família do extermínio. Para tanto, Deus ordenou-lhe a construção de uma grande arca, na qual Noé e sua família poderiam se salvar das águas que inundariam a terra (terra, neste contexto, vem do hebraico eretz, que significa região). Além de sua família, ele deveria abrigar na arca casais de animais também.

Mesmo ouvindo as caçoadas de seus conterrâneos, Noé acatou as ordens de Deus e, com o coração cheio de obediência, pôs a trabalhar e construiu a arca. Quando chegou o tempo determinado, a chuva começou. Choveu dia e noite durante quarenta dias. Conforme diz a Escritura, todos os homens e todos os seres vivos que ficaram fora da arca morreram. Passados quarenta dias, a chuva parou e as águas foram abaixando. Noé enviou uma pomba (algumas traduções mencionam um corvo) que voou e trouxe-lhe um ramo de oliveira, dando a saber que a terra já estava seca. Tendo as águas abaixado completamente, a arca teria ficado encalhada no Monte Ararat, numa região onde hoje fica a fronteira da Turquia com a Armênia. Surgiu no céu um arco-íris, sendo o sinal de que Deus não destruiria novamente a humanidade. Estando já em terra seca, Noé ergueu um altar e ofereceu a Deus um sacrifício.

Finalmente, Noé e sua família e também os animais puderam pisar em terra firme. Segundo a Bíblia, Noé teria vivido novecentos e cinqüenta anos. Tal longevidade certamente é uma indicação de que ele realmente “encontrou graça aos olhos do Senhor” (Gn 6,8).

A história do dilúvio, bem como outras encontradas no Antigo Testamento, possuem similaridades com muitas outras histórias de povos antigos que viviam na região do Oriente Médio, especialmente dos povos da Mesopotâmia. Uma delas é do herói e rei sumério chamado Guilgamés, que é considerada o mais antigo conto escrito pela humanidade. É conhecida por Epopéia de Guilgamés. Segundo esta história, Guilgamés passou sua vida inteira à procura da imortalidade, a qual lhe foi negada pelos deuses.

Nesta epopéia, traduzida da língua antiga original em 1872, há um personagem chamado Utnapisti, cuja história é muito semelhante à de Noé. Utnapisti é um rei e sacerdote sumério, único sobrevivente do dilúvio juntamente com sua família. Seu nome significa “encontrou (viu) a vida”, isto é, encontrou a imortalidade.

Também já foi encontrada pelos arqueólogos em Nipur, na Babilônia meridional, uma tabuinha do ano 1.600 antes de Cristo, a qual relata a história de uma grande e devastadora inundação. Há ainda a história de outro herói sumério chamado Ziusudra, na qual há semelhanças com a narrativa bíblica.

É bom salientar ainda que todas essas histórias são bem anteriores à época em que o Gênesis foi escrito e, portanto, bem anteriores inclusive ao surgimento do povo hebreu. Observe-se ainda que Abraão era originário da região da Caldéia, ou seja, da Mesopotâmia. Ele conhecia todas essas narrativas que passavam oralmente de geração a geração.

Todas essas histórias, enfim, relatam a ocorrência de uma grande inundação, a qual foi de proporções catastróficas. Essa calamidade deixou marcas na memória coletiva das pessoas daquela região. Naturalmente, uma inundação deste porte poderia ocorrer naquelas terras cercadas por dois grandes rios, o Tigre e o Eufrates. Devemos ter em mente que a noção de mundo daqueles povos antigos era muito diferente da nossa. Naquela época, a noção de “mundo inteiro” ou “terra inteira” era limitada às regiões então conhecidas. Não era como hoje, que temos conhecimento de que o mundo, isto é, a terra, é um planeta.

Não cabe ficar argumentando sobre a existência ou não da arca de Noé, assim como se realmente ele colocou casais de todos os animais dentro da mesma, ou ainda sair procurando os restos da arca em cima das montanhas da Armênia e da Turquia. O sentido da história certamente não é este. A Bíblia não é um livro de história natural nem uma revista científica. Ela é a coleção de livros nos quais, através dos tempos, Deus quis se revelar à humanidade. No tocante à história da arca, o que importa é que Deus salvou Noé e sua família da punição dada aos homens por causa de seus pecados. Mais ainda, até mesmo a criação sofre as conseqüências dos pecados humanos. Este é, sem dúvida, o sentido maior desta bela história que passou pelos lábios dos patriarcas e dos juízes até chegar às mãos do escritor que a transcreveu nos rolos de pergaminho. E mais ainda, nesta história é apresentada a primeira aliança que Deus, em sua misericórdia, fez com a humanidade.

Na próxima semana, você conhecerá sobre a história de Abraão.


Nilson Antônio da Silva

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